Estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) comprovou que o consumo moderado do vinho tinto liofilizado Rio Sol Cabernet-Sauvignon, produzido em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, pode beneficiar o sistema cardiovascular de ratos espontaneamente hipertensos.

A saúde de ratos espontaneamente hipertensos teve melhora após tratamento de seis semanas, com administração intragástrica de 100 ou de 300 mg por dia, do Rio Sol Cabernet-Sauvignon.

A terapia conseguiu reduzir a pressão arterial e a hipercontratilidade vascular, que é quando um vaso sanguíneo tem um aumento da sua capacidade contrátil. Além disso, os ratos apresentaram melhoria na função endotelial de vasos de resistência.

O endotélio, camada celular que reveste interiormente os vasos sanguíneos e linfáticos, tem propriedades importantes como a manutenção da circulação sanguínea, regulação do tônus vascular, permeabilidade microvascular, sinalização e resposta inflamatória e angiogênese vascular, processo de formação de vasos sanguíneos a partir de vasos preexistentes.

A ingestão crônica do vinho tinto Rio Sol Cabernet-Sauvignon também diminuiu a espessura da parede dos vasos sanguíneos, a relação da camada média-lúmen de artérias de grande calibre, a deposição vascular de colágeno e o estresse oxidativo dos vasos sanguíneos.

O vinho tinto liofilizado Rio Sol Cabernet-Sauvignon também atenuou a hiperagregação plaquetária, que é quando existe um aumento da capacidade de agregação das plaquetas. Do mesmo modo, mitigou a geração de Substâncias Reativas de Oxigênio (ROS), compostos químicos altamente instáveis, derivados do oxigênio, e responsáveis pela formação de radicais livres.

Esses radicais livres podem contribuir para o surgimento de problemas de saúde, como o enfraquecimento do sistema imunológico, o envelhecimento e distúrbios como artrite, arteriosclerose e catarata.

Esses benefícios na saúde de ratos espontaneamente hipertensos ocorreram por causa da presença de, no mínimo, 16 diferentes compostos fenólicos no vinho tinto liofilizado Rio Sol Cabernet-Sauvignon, como o ácido gentísico, a catequina e o resveratrol.

Esses metabólitos secundários são sintetizados amplamente no reino vegetal e atuam, principalmente, como agentes de defesa, em resposta a estresses causados aos frutos e vegetais, conferindo a eles sabor, aroma, coloração e adstringência. Essas substâncias também têm diversas propriedades vasodilatadoras, como diminuição da  pressão arterial e facilitação da passagem do sangue através dos vasos sanguíneos.

A identificação desses compostos fenólicos se deu por meio do uso de cromatografia líquida de alta eficiência, que tem como princípio básico a separação de determinadas misturas.

“A ingestão crônica do liofilizado do vinho tinto foi capaz de reverter/atenuar as alterações estruturais nos vasos dos animais hipertensos. Este efeito parece ser devido à redução da produção de espécies reativas de oxigênio e, consequentemente, menor estresse oxidativo nestes tecidos vasculares”, afirma o professor Isac Medeiros, do Departamento de Ciências Farmacêuticas, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPB e um dos autores do estudo.

Segundo o cientista da UFPB, as células endoteliais produzem e, dependendo do estímulo recebido, liberam fatores que levam à contração ou relaxamento das células do tecido muscular liso dos vasos. O desequilíbrio na produção de substâncias pelo endotélio causa várias condições e doenças como isquemia, trombose, aterosclerose, hipertensão arterial, inflamação e crescimento tumoral.

“A disfunção endotelial é caracterizada, principalmente, por alterações nas ações do endotélio que envolvem redução de vasodilatação e indução de estado pró-inflamatório ou pró-trombótico. Devido à sua importância clínica, a disfunção endotelial é considerada preditora independente de risco cardiovascular. Adicionalmente, pode ser observada também em doenças não-cardiovasculares, como as reumáticas e autoimunes, explica o Prof. Isac Medeiros.

Conforme o docente, na França e demais regiões produtoras de vinho tinto, que ficam nos paralelos [linhas imaginárias que circulam a Terra no sentido leste–oeste] ideais para a produção da uva, o cultivo do fruto da videira é feito de uma maneira muito singular.

O Vale do São Francisco, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, é uma região completamente fora destes paralelos e lá a uva é produzida através de estresse hídrico, ou seja, até uma determinada fase do ciclo evolutivo da planta, há irrigação à vontade e, em determinado momento, o fornecimento é interrompido.

Esse processo gera um estresse na planta, fazendo com que ela produza metabólitos secundários. “O objetivo do nosso estudo foi saber se esta forma de cultivo e produção da uva poderia alterar o conteúdo em substâncias fenólicas e, consequentemente, interferir na ação cardioprotetora do vinho”, revela o pesquisador da UFPB.

Prof. Isac Medeiros explica que, de acordo com a literatura científica, a equipe de pesquisadores da UFPB já tinha conhecimento de que a uva da região de Petrolina era capaz de produzir substâncias fenólicas facilmente extraídas pelo processo de fermentação e produção do vinho.

“Os achados do estudo publicado demonstram que vinhos produzidos no Vale do Rio São Francisco, em suas condições ambientais particulares, retêm a mesma proteção observada em muitos vinhos de outras partes do mundo, incluindo a França. No entanto, salientamos que este estudo foi realizado em nível pré-clínico e, para inferirmos sobre benefícios reais para a saúde humana, será preciso realizar estudos clínicos”, pondera o Prof. Isac Medeiros.

Também são autores do estudo os cientistas da UFPB Mayara P. Melo, Pablo F. Santos, Kívia S. Assis, Priscilla M.P. Maciel, Renata L.P. Vieira, Fátima de L.A.A. Azevedo, Angela M.T.M. Cordeiro, Bruno R.L.A. Meireles, Islania G.A. Araújo e Robson C. Veras, além de Natália T.M. Calzerra, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A pesquisa teve o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Instituto UFPB de Desenvolvimento da Paraíba (Idep) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os resultados do trabalho foram publicados no periódico internacional Journal of Functional Foods, que tem fator de impacto 4,451 e é editado pela Elsevier, empresa editorial holandesa especializada em conteúdo científico, técnico e médico.

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