A Incubadora de Empreendimentos Populares Solidários (Inceps) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realizou uma pesquisa inédita sobre o cultivo de peixes pangasius na barragem de Araçagi, interior da Paraíba. O estudo revelou o potencial do Nordeste brasileiro para a criação dos peixes, que são importados do Vietnã.

O pangasius – ou “panga” – é um peixe de água doce cultivado, majoritariamente, em tanques artificiais. No Vietnã, país que mais exporta pangas no mundo, o peixe é cultivado na foz do rio Mekong. O Brasil gasta cerca de U$ 300 milhões com a importação de pangas de países como Vietnã e China.

Buscando avaliar a viabilidade da criação dos pangas no Nordeste para beneficiar pequenos criadores de peixes na Paraíba, o pesquisador Genyson Evangelista, professor do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA) e coordenador da Inceps da UFPB, iniciou o projeto “Pangasius”, com a colaboração de 15 famílias de piscicultores do município de Itapororoca, em abril de 2020.

A Inceps desenvolve trabalhos de pesquisa, estágios, consultoria e assistência técnica nas áreas de agropecuária, suinocultura, caprinocultura, ovinocultura e avicultura. Atualmente, mais de 100 famílias de pescadores e piscicultores são beneficiadas pelos serviços prestados nos municípios de Camalaú, Monteiro, São Sebastião do Umbuzeiro, Boqueirão e Itapororoca.

Dentro de parcerias com a empresa Guaraves, que realizou a doação de rações, e a fazenda Aquicultura Lawrence, que forneceu os alevinos (peixes em fase inicial de formação) de pangas, a pesquisa utilizou uma metodologia comparativa com o cultivo de peixes tilápias para apontar possíveis vantagens do panga em relação à outra espécie de peixe.

Antes da análise, segundo o docente, existia uma descrença por parte da comunidade científica sobre a eficiência da criação de pangas em tanques-redes. Os resultados do estudo da Inceps mostraram um maior grau de sucesso na criação de pangas em tanques-redes em relação aos tanques escavados. O cultivo de pangas revelou-se ser mais vantajoso do que o da tilápia em quase todos os critérios de comparação adotados.

“O estudo mostrou que a importação realizada de países asiáticos pode ser, muito bem, substituída pela produção interna, no Brasil, para a geração de renda e novos postos de trabalho, sobretudo na agricultura familiar”, afirmou o Prof. Genyson.

Com os resultados em mãos, foi montada uma tabela alimentar, com os produtos a serem utilizados e as quantidades necessárias para chegar na Conversão Alimentar ideal, de forma a obter lucro na criação dos peixes. Nelson Pedace, gerente comercial da empresa Guaraves, falou sobre a importância da formulação de uma dieta específica para o sucesso da pesquisa.

Hoje, quando se fala em criações de frango e suínos, contamos com um pacote tecnológico (de genética, nutrição, sanidade e manejo) já pronto, em que o criador apenas precisa seguir estes manuais e ter sucesso na criação. Já na piscicultura, com peixes como tilápia e panga, muitos criadores passam por insucesso por não ter este pacote. As pesquisas, ao desenvolverem manuais de manejo, revelam as melhores formas de criação desses animais”, explicou.

O resultado da produção – quase uma tonelada de peixe panga – foi doado às 15 famílias de piscicultores que participaram do projeto, gerando uma receita bruta de quase R$ 13 mil. Esse valor foi depositado em um fundo rotativo que o grupo de piscicultores criou para refinanciar a produção.

“Fizemos todos os tipos de testes. Vendemos peixes de ótima qualidade e mostramos a todos que a aposta deu certo. As pesquisas nos trazem melhorias. Esta, em particular, chegou com uma nova espécie de peixe que só vem a fortalecer a piscicultura na nossa região”, afirmou Lenilson Duarte, piscicultor de Itapororoca.

Graças à notabilidade gerada pelos bons resultados da pesquisa, o Prof. Genyson se tornou representante da UFPB no comitê do Prodeter Aquicultura-PB, programa de desenvolvimento territorial do Banco do Nordeste para a aquicultura na Paraíba.

A pesquisa ainda rendeu a criação de um grupo de estudo formado pela UFPB, a Guaraves e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas na Paraíba (Sebrae-PB) para propor ao Governo do Estado um plano de desenvolvimento do cultivo de pangas na Paraíba.

“Muitos piscicultores pretendem iniciar um cultivo de peixe panga, atraídos por uma proposta da Guaraves para que estes se tornem os seus fornecedores em um futuro abatedouro que a empresa pretende instalar na Paraíba. A empresa já mostrou interesse em continuar essa parceria com a Inceps/CCHSA para aumentar o número de produtores no Estado”, comentou o coordenador.

O deputado estadual Moacir Rodrigues, que já vinha tentando criar uma lei estadual para liberar o cultivo de peixes panga em sistemas abertos, também utilizou os resultados da pesquisa da Inceps para embasar e fundamentar o seu projeto de lei. No momento, o projeto se encontra em fase de análise pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB).

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