Entre os 37 países membros e parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o segundo com a pior taxa de formação técnica e profissional entre os formandos do ensino médio, ficando atrás apenas do Canadá.

Enquanto aqui, só 9% dos adolescentes concluem a educação básica com um diploma de curso técnico, a média da OCDE é de 38%. Em países como Áustria, Suíça e Reino Unido, o percentual ultrapassa os 60%.

Relatório 2021 foi divulgado pela OCDE mundialmente nesta quinta-feira (16)
Relatório 2021 foi divulgado pela OCDE mundialmente nesta quinta-feira (16)

Os dados, referentes à 2019, constam no relatório Education at a Glance 2021. Outro dado que chama atenção é que, enquanto nos outros países, os homens são maioria entre os concluintes do ensino médio com o profissionalizante; no Brasil, as mulheres representam 56%. O índice é bem próximo ao do ensino superior, onde elas são 54%.

Diferenças entre homens e mulheres são destaque
Diferenças entre homens e mulheres são destaque

Brasil tem maior oferta nas áreas de gestão e saúde

O percentual poderia indicar avanços na busca por maior participação delas no mercado de trabalho, porém deve ser analisado junto a outros indicadores e ao contexto da oferta da educação profissional no país, alerta o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAI), Rafael Lucchesi.


“Além de ter poucos estudantes de ensino médio recebendo uma formação profissional e estar longe da meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação, o Brasil tem, historicamente, uma maior oferta de cursos técnicos nas áreas de gestão e saúde, mais procuradas por mulheres. Nos outros países, as áreas de engenharia, manufatura e construção respondem pela maior parte das matrículas”, compara Lucchesi.


A edição 2020 do Education at a Glance mostrava que apenas 15,95% dos alunos dos cursos técnicos do ensino médio no Brasil se formam nessas três áreas; enquanto a média OCDE é de 32,76 %, chegando a 47,14% no Chile, por exemplo.

Relatório de 2020 detalhava áreas com maior percentual de graduados do ensino secundário profissionalizante
Relatório de 2020 detalhava áreas com maior percentual de graduados do ensino secundário profissionalizante

Meta do PNE para aumentar matrículas na educação profissional

Em 2020, o Brasil registrou 1,9 milhão de matrículas na educação profissional técnica de nível médio, e o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece como meta alcançar 5,2 milhões de matrículas até 2024, sendo 50% na rede pública.

O SENAI, um dos cinco maiores complexos de educação profissional do mundo, faz parte da rede privada e é referência no Brasil, tendo formado mais de 80 bilhões de pessoas nos últimos 79 anos em cursos técnicos, de qualificação, aperfeiçoamento, entre outros, alinhado às demandas da indústria.

Para o diretor da instituição, o novo ensino médio – que inclui a educação profissional em um dos cinco itinerários formativos e deve começar a ser implementado a partir do ano que vem nas redes públicas e privadas de ensino – é a oportunidade de corrigir a distorção na matriz educacional brasileira, que tem como foco a preparação para o ensino superior.

Incentivo e oferta para reduzir evasão e contornar gap de gênero

De acordo com o Education at a Glance 2021, apenas 20% dos homens e 27% das mulheres de 25 a 34 anos têm um diploma de ensino superior. E 28% dos brasileiros de 25 a 34 anos não completaram o ensino médio, enquanto a média OCDE é de 15%.

Além de oferecer uma formação que seja porta de entrada para o mercado de trabalho e uma preparação para a faculdade, Lucchesi destaca que o ensino técnico no ensino médio também pode engajar o estudante e reduzir a evasão e a segregação ocupacional por gênero (áreas e profissões “masculinas” e “femininas”).

Para que a escolha profissional de meninas e mulheres não seja mais influenciada por papéis de gênero tradicionais, é necessário trazer o mundo do trabalho e possibilitar a construção de projetos de vida e de carreira em sala de aula, abordando as oportunidades de cada área.

Por fim, o relatório da OCDE mostra a relação entre emprego, gênero e escolaridade. Entre a população que não concluiu o ensino médio, 35% das mulheres estavam empregadas em 2018 e, entre os homens, o percentual é de 69%.