Pesos extras nas pernas e nos braços e, de uma hora para outra, as costas já não podem mais ficar totalmente eretas. A acuidade visual diminui junto com a capacidade auditiva e tarefas cotidianas que exigem movimentos das articulações como subir os degraus de uma escada ou segurar um copo de água te fazem suar. Tudo isso é vivenciado pelos estudantes do curso Técnico em Cuidados com Idosos, da Escola Técnica de Saúde (ETS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por meio de um simulador avançado para a velhice.

Amanda Medeiros, aluna do curso Técnico em Cuidados com Idosos, contou qual a maior diferença que a experimentação do equipamento causou para ela. “A diminuição da visão é terrível, a sensação de você não ter a noção do espaço, ter a sua visão comprometida, fora a amplitude dos movimentos que foi muito diminuída. A sensação de peso nas costas, nas pernas, a falta de tato, a insegurança na hora de pegar objeto, pois você não consegue fazer a dobra dos dedos normalmente”, disse.

Para Amanda, que tem 33 anos de idade e nenhuma limitação física neste momento, a utilização do simulador avançado para a velhice causou perda do domínio dos movimentos e possibilitou a reflexão sobre a realidade de uma pessoa com mais de 80 anos de idade, que além dos aspectos naturais ao envelhecimento pode ainda ser acometida de dores nas articulações e outras doenças. Amanda considera essa experiência importante não apenas como aluna da ETS, mas também como cidadã.

“Ter uma mínima noção do que é a vida de uma pessoa idosa é uma questão de ter com o outro empatia e respeito. Eu acho que é uma experiência que seria muito válida para todo mundo viver uma vez na vida, a gente repensaria três, quatro vezes antes de dizer ‘ande mais rápido!’ para a avó da gente se soubesse o quanto é difícil levantar, andar, orientar-se no espaço. Acho que as pessoas começariam a pensar muitas vezes antes de recriminar o idoso”, disse Amanda.

Ao “vestir” o equipamento o aluno sente que na região da coluna uma estrutura de haste metálica passa a dar o suporte da região dorsal, moldando uma curvatura para a frente, que o idoso tende a ter com o passar da idade.

Próximo às articulações dos membros inferiores e superiores, na região dos punhos e tornozelos, o simulador conta com pesos porque, conforme explica a coordenadora do curso Técnico em Cuidados com Idosos, Profa Anne Araújo, à medida que a idade passa, a rigidez muscular do idoso acontece.

“E essa rigidez, essa perda muscular dificulta os movimentos de amplitude. Então há essa dificuldade com relação a pegar com as mãos e a esses movimentos que a gente chama de movimentos globais, que no indivíduo jovem ele consegue fazer com maior amplitude, maior leveza, já na terceira idade, em alguns idosos, sabe-se que esses movimentos estão diminuídos”, explicou a docente.

No rosto do aluno os óculos diminuem a acuidade visual, recriando um das condições fisiológicas do processo de envelhecimento; no ouvido um protetor auricular diminui a audição; e, nas mãos, luvas reduzem a agilidade e limitam os movimentos no processo de pegar. A bengala é o último item do simulador, elemento de apoio que alguns idosos utilizam devido à diminuição da amplitude de marcha e do equilíbrio.

O simulador é usado dentro e fora do Laboratório de Prática e Cuidados com a Pessoa Idosa, da ETS. Os estudantes do curso técnico em cuidados com idosos atravessam ruas, sobem rampas e escadas, e andam pelas calçadas da Universidade para enfrentar desafios presentes no cotidiano dos idosos.

Segundo a coordenadora do curso Profa Anne Araújo, o uso do simulador permite ao aluno encarar o processo de envelhecimento com todas as modificações fisiológicas normais ao envelhecimento e as limitações causadas por alguma comorbidade. A docente destaca que o processo de envelhecimento é mutável para cada pessoa, a partir dos hábitos de vida na fase adulta, e que a vivência com o equipamento faz a formação dos alunos na ETS ser técnica e cidadã.

“Nós trabalhamos com a formação holística na qual a gente deve enxergar o nosso sujeito em todas as vertentes, no social, no fisiológico, e não focar apenas em ser curativo, mas conseguindo observar em sua totalidade o nosso paciente. Dar um olhar mais global é uma questão social, para a gente trabalhar o envelhecimento não como doença, mas como uma fase de vida, um envelhecimento ativo e saudável”, disse a docente.

A ETS conta com dez simuladores avançados para a velhice, um investimento estimado de R$ 10 mil por equipamento, que também são utilizados, eventualmente, pelos alunos do curso de Enfermagem da UFPB.  Na última edição do Congresso Internacional de Envelhecimento Humano, as docentes Anne Karoline Araújo, Maria Soraya Adriano, Rebeka de Oliveira Belo e Verbena Araújo, acompanhadas por alunos do curso técnico em cuidado com idosos, ministraram um minicurso para difundir o uso do equipamento nos cursos profissionais da área.

Para a aluna Lilian Araújo, que realiza sua segunda formação técnica na ETS, tendo sido a primeira no curso Técnico em Enfermagem, o uso de equipamentos como o simulador fazem a diferença no curso oferecido pela ETS, e somados ao currículo, corpo técnico e docente, proporcionam uma qualificação profissional de excelência.

“A escola técnica nos dá oportunidade de participar da extensão, da pesquisa, isso também é um diferencial para nós. Os cursos aqui na UFPB dão a oportunidade de ter uma visão holística sobre o nosso cliente, a gente sabe oferecer ao idoso como ter autonomia e os direitos deles respeitados. E proporcionar um envelhecimento saudável a eles é muito gratificante, isso é um diferencial, as empresas e instituições sabem do ensino de excelência que é oferecido aqui”, conclui a aluna.